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A Síndrome dos 27 anos – Psicanálise e Astrologia¹

por Luiz Roberto Delvaux de Matos

a)  A visão psicanalítica:

Freud para explicar as formações do inconsciente distinguiu dois processos: o Primário, de ordem inconsciente e o Secundário, de ordem pré-consciente/consciente. O primeiro é regido pelo princípio do prazer-desprazer e o segundo, pelo de realidade.²

O princípio do prazer, isto é, do padecimento mínimo pela evitação do desprazer, só cumpre sua função reguladora ao se submeter ao princípio de realidade. Somente o desvio por este e somente a recusa que ele impõe permitem ao princípio do prazer não descambar, conforme sua própria inclinação, para o excesso ou a falta, isto é, para a dor – senão de imediato, pelo menos num prazo maior ou menor, segundo sua finalidade, ao  esmo tempo natural ou normativa.

Esses dois pólos – princípio do prazer e princípio de realidade – são irredutíveis um ao outro, porém ainda assim inseparáveis cada qual remetendo ao outro.

O que é realmente esta realidade? Não é a realidade social em geral, nem os costumes aceitos desta ou daquela cultura, nem a realidade física inscrita pela ciência. Trata-se inicialmente desse Outro com que lidamos desde a infância, um Outro que Freud chamou de “a Coisa” (das Ding) ou o “próximo” (Nebenmensch).

No seu trabalho “Projeto para uma psicologia científica” ³  (1895), Freud diz: “o complexo do próximo decompõe-se em dois elementos, um dos quais se impõe por uma estrutura constante, mantém-se unido como Coisa  (als Ding), enquanto o outro pode ser compreendido por um trabalho de recordação, isto é, pode ser rastreado até uma informação proveniente do próprio corpo”.

Esse Outro, esse próximo – em geral, num primeiro  tempo, a Mãe (mas também, a Mãe-Terra) – tem duas faces. A primeira – “o outro elemento” – é feita à nossa imagem e semelhança, de modo que compreendo este  elemento tal como suponho que ele me compreende. Essa primeira face é meu  semelhante, meu outro. A segunda (als Ding), está além do semelhante. É o próximo propriamente dito, o Outro inominável, fora do  significado, estranho e estrangeiro a mim mesmo, imprevisível. Nesta segunda face, o Outro me aparece sob o signo  do capricho, do arbítrio, do sem crença e sem moral, que me possa dar alguma garantia.

Assim é o Princípio de Realidade. O que fazer com  ele? Como estabelecer essa relação com o próximo?

Para isto existe o Princípio de Prazer-Desprazer.  Ele rege as representações inconscientes, de acordo com as leis de deslocamento (metonímia) e da condensação (metáfora), leis do significante. Com isso rege a busca do Outro como  objeto, girando em torno dele – buscar é circare, delimitar girando em torno de.

Trata-se com isso de instaurar uma distância, uma  reserva graças a essa perda do objeto, perda que se consuma na medida em que o objeto só é encontrado em seu representante.

b) A visão astrológica:

Em Astrologia, os processos Primário e Secundário são coordenados através das casas um a quatro e nove a doze, respectivamente. O bebê ao nascer tem nos dois pontos cardeais – MC (meio-do-céu) e FC (fundo-do-céu) – suas referências iniciais que o ligam ao Princípio de Realidade (Saturno) e ao Princípio do Prazer-Desprazer (Lua).

No início de sua amamentação, o bebê experimenta um prazer desproporcional que o marcará definitivamente. Todos os outros momentos de repetição deste ato de amamentar serão marcados  pela tentativa de reviver   primeiro momento, sem conseguir atingir a mesma intensidade de prazer. Podemos observar aqui a gênese do Princípio de Realidade.

Saturno-Capricórnio é meu semelhante, meu outro. Há uma tendência em Capricórnio de se colocar no lugar do  outro, tentando ampará-lo. Com o tempo irá aprender que sua obrigação é tomar conta de si. Há também uma função de repetição que auxilia no estabelecimento de limites.

Saturno-Aquário (Urano) é algo além de meu semelhante, algo da  ordem do inominável, que surge de repente, é o estranho e o estrangeiro a mim mesmo. Aparece sob o signo do capricho e do arbítrio, não me dando qualquer tipo de garantia.

A Lua simboliza o Princípio de Prazer-Desprazer e Saturno, o Princípio de Realidade. Freud denomina “realidade”, a “Coisa” (das Ding) ou o “Próximo” (Nebenmensch) e nos ensina que o Complexo do Próximo se  ecompõe em duas faces: a primeira é meu semelhante, meu outro. A segunda (als Ding) é algo além de meu semelhante, o outro inominável, fora do significado, estranho e estrangeiro a mim mesmo.

Em Astrologia, o Princípio do Prazer-Desprazer simbolizado pela  Lua, rege a busca do Outro como objeto, girando em  torno dele, na tentativa de instaurar uma distância, um espaço-reserva necessário para a construção  de um lugar-lógico para o representante deste objeto (perdido).

Ressaltamos aqui a importância da Lua enquanto função acolhedora, mas também, como instância que deveremos substituir. Caso não se consiga poderemos estar diante de um grave problema de adicção.

c)  A Síndrome dos 27 anos:

Recentemente, com a morte da cantora Amy Winehouse  muitos órgãos de imprensa se questionaram o porquê várias  personagens conhecidos da música mundial morreram exatamente nesta idade: 4

1 – Jim Morrisson (08/12/43 – 03/07/71).

O ex-vocalista da banda de rock “The Doors” foi encontrado morto na banheira de um apartamento em Paris. Especula-se que a causa da morte tenha sido por overdose de heroína.

2 – Janis Joplin (19/01/43 – 04/10/70).

Também morreu sozinha. Joplin foi encontrada em um  quarto de hotel. Ela teria tomado vários drinques e fez uso de heroína 50% pura, o que causou a overdose.

3 – Jimi Hendrix (27/11/1942 – 18/09/70).

Um dos maiores guitarristas da história do rock, Jimi Hendrix morreu em Londres depois de ingerir cápsulas com anfetaminas e sedativos. Hendrix também teria usado LSD em pó e durante o sono morreu sufocado no  próprio vômito.

4 – Kurt Cobain (20/02/67 – 05/04/94).

O ex-vocalista da banda “Nirvana” foi encontrado morto em sua casa com um tiro na cabeça. Ele teria se suicidado após consumir uma grande quantidade de heroína.

5 – Brian Jones (28/02/1942 – 03/07/69).

Membro-fundador da banda “The Rolling Stones”, Brian foi encontrado morto boiando na piscina em uma mansão de Londres. Ele teria tido uma overdose seguida de afogamento.

6 – Robert Johnson (08/05/11 – 16/08/38).

O guitarrista norte-americano de blues morreu vítima de pneumonia. Há versões de que ele contraiu a doença após beber um uísque envenenado com estricnina, preparado pelo dono do bar, com cuja mulher Johnson teria flertado.

Aos 27 anos, teoricamente, o Princípio do Prazer estaria suficientemente maduro para se submeter a um teste  mais duro de adequação à realidade. Este teste é feito dentro do período de 2 anos (até os 29 anos), quando se encerra o ciclo de trânsito de Saturno ao redor do Sol.

Este teste é importante porque sem a barreira imposta pelo Princípio de Realidade (Capricórnio-Saturno), o ego mergulha  fundo na depressão, pois é difícil receber ajuda no enfrentamento de sua solidão/escuridão. Podemos pensar que psicologicamente este ser perdeu o contato com seus aspectos mais humanos.
Deixando para trás o mundo que lhe é familiar, precisa aventurar-se às cegas, sem nenhuma garantia. Um enfrentamento deste tipo pode significar sua morte, mas também um renascimento.

Frequentemente podemos identificar nestes nomes, pessoas que alcançaram o sucesso midiático muito cedo ou que foram arrebatados pelos laços do amor.

Há hoje em nossa “Sociedade do Espetáculo” um incentivo, quase um clamor, para que nossos jovens trilhem um caminho do “$uce$$o de forma bastante prematura, propondo-lhes “colher os frutos” antes da hora.

 

1  O autor é Astrólogo há 22 anos e membro do CNA (Central Nacional de Astrologia). É também Psicólogo e Psicanalista e Professor e Articulista  de Astrologia. Este artigo foi apresentado no VI Encontro da Central  Nacional de Astrologia (CNA), regional do Ceará em 01/10/2011.

2  Texto extraído e adaptado do livro “O Estranho Gozo do Próximo – Ética e Psicanálise” de Philippe Julien, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.

3  Freud, S., “Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira”, 2ª ed., Rio de Janeiro: Imago, 1988.

A Síndrome dos 27 anos – Psicanálise e Astrologia¹