por Márcia Ferreira Silva
A designação do nome Astrologia Psicológica serve para delinear a proposta de estudos e de trabalho do C.E.A.P., pois assim como em muitas áreas do conhecimento humano, dentro da Astrologia também existem diversas ‘linhas’, ou seja, diversas formas de se encarar e de se trabalhar o mesmo objeto de estudo.
Na própria Psicologia encontramos diferentes linhas de abordagem, tais como: Gestalt, Behaviorismo, Psicanálise, Psicologia Junguiana, Rogeriana, Bioenergética. Ainda, dentro da psicanálise em si, encontramos as subdivisões em: Psicanálise Freudiana, Kleiniana, Lacaniana, Bion, só para citar alguns exemplos. Todas se referem ao mesmo objeto de estudo: a alma humana, porém vista e analisada sob diferentes óticas e se utilizando de ferramentas diversas para se atingir o mesmo fim.
Enquanto isso, na Astrologia, o que se conhece tradicionalmente como Astrologia propriamente dita, vai ter como enfoque prioritariamente a descrição do caráter de uma pessoa e a previsão dos acontecimentos, principalmente os externos, na vida daquela pessoa.
Já no que chamamos de Astrologia Psicológica, isso acontece também, mas de uma forma um pouco diferente: para a Astrologia Psicológica, não são os eventos externos propriamente ditos o que mais importa, ou seja, se a pessoa irá se casar no mês que vem ou se arrumará um emprego, esses eventos externos têm sua importância sim, mas o mais importante vem a ser a dinâmica psíquica envolvida naquele processo e naquele determinado momento em particular. O que importa é a qualidade psíquica de determinado momento e a importância da pessoa estar consciente e alinhada com isso para poder “remar a favor da maré” e assim, sua vida fluir melhor.
Uma das melhores definições para se entender o porquê de não se carregar tanto as tintas nas previsões de acontecimentos externos, é através da colocação do psicólogo e professor Richard Tarnas: “a Astrologia é arquetipicamente preditiva e não evento-preditiva”. Já vimos que a astrologia é uma linguagem arquetípica e sendo assim, entendemos que um evento externo seria tão somente a manifestação de um determinado arquétipo em potencial, portanto, o mais importante é desvendar o arquétipo em si, de qual arquétipo estaríamos tratando. Se o arquétipo estará revestido pela roupagem x, y ou z, não é o mais importante para nós, mas sim entendermos qual a dinâmica que esteja pulsando por detrás daquela manifestação. Uma vez decifrando-se o arquétipo em questão, poderemos analisar a tendência daquele período e assim, nossa compreensão irá além do evento propriamente dito, o qual inclusive poderá até vir a se modificar, mas ainda assim não acarretará num prejuízo para a nossa análise e para o prognóstico em si.
O intuito é sempre trazer para dentro a compreensão do problema e não projetar fora, no mundo externo, porque isso simplesmente não resolve, é paliativo. Ao se conscientizar dos arquétipos em evidência, outras elaborações correlatas virão simultaneamente, aumentando assim o espectro de consciência a partir da leitura de um Mapa e conseqüentemente seu poder de ação sobre os seus próprios conteúdos e sobre sua vida.
Somos enfaticamente contra a utilização da Astrologia como instrumento gerador de medos, de visões onipotentes e/ou como receptáculo de projeções ingênuas, pois se assim o for, o que era antes projetado no marido, esposa, filhos, ou quaisquer pessoas próximas, agora passaria simplesmente a ser projetado nos planetas, na Lua, no Sol, mantendo-se assim o mesmo mecanismo primitivo, inconsciente, repetitivo e alienante.
Entendemos que a relação do mundo externo com o interno se dá tal qual a relação de um espelho, ou seja, o que acontece externamente na vida de determinada pessoa, reflete a sua dinâmica interna. Jung explorou bastante isso em seus trabalhos e segundo ele: “quando uma situação interna não é conscientizada, acontece no mundo externo como destino”.
Delegar aos astros algo que é de responsabilidade interna, no nosso entender, seria um enfoque em relação à Astrologia totalmente ‘naive’, uma atitude ingênua e simplória, digna dos ataques por parte de nossos detratores. De novo, repetimos, não se trata de uma relação de causa e efeito, onde os causadores são os planetas e o efeito a alteração em nosso comportamento.
O enfoque da Astrologia Psicológica é muito mais dinâmico: momentos onde hajam previsões “ruins”, são momentos de crise e de possibilidades de mudanças, quando justamente não devemos nos furtar a que tais mudanças ocorram. As crises nesse sentido são vistas como oportunidades de crescimento e não como algo que se deva evitar. Ao trazer à consciência as possibilidades de crescimento e de mudanças que existem em potencial dentro de cada um, saímos de uma condição estagnada, de impotência e de irresponsabilidade perante os fatos da vida. Aumentando a consciência e o poder internos, o indivíduo passa a ter um instrumental maior para lidar com sua psique e conseqüentemente com sua própria vida, saindo de uma posição impotente de mero espectador.
As dificuldades e bloqueios mostrados no Mapa trazem em si mesmos o potencial para serem transcendidos e vivenciados de uma maneira totalmente nova e diferente daquela condição repetitiva que se mostrou inicialmente.
Por último mas não menos importante, gostaria de enfatizar que a Astrologia Psicológica não é um método terapêutico em si, mas sim uma ferramenta excelente de psicodiagnóstico e é nessa revelação da personalidade que reside sua maior riqueza.
Neste sentido, com a união dos dois saberes, da Astrologia como um guia para se desvendar a alma humana e da Psicologia com o próprio tratamento psicoterapêutico e psicanalítico em si, temos a união de poderosos aliados não só para a compreensão humana e existencial em geral como também para o tratamento de cada paciente em particular.