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Uma Introdução à Astro-Psicologia

Por Glenn Perry, Ph. D.

Há alguns anos atrás Christine Shulter da rede de televisão A&E, me entrevistou para um programa chamado “O Inexplicável”. Eles queriam fazer um trabalho sobre astrologia. Embora a maioria das minhas respostas às suas perguntas tenham sido cortadas do vídeo, elas ficaram gravadas em fita. O que se segue é uma transcrição daquela entrevista, que dá uma ótima introdução a minha atual maneira de ver a psicologia astrológica.

O que é Astrologia e como ela difere daquilo que você chama de astro-psicologia?

Astrologia é o estudo das correlações entre os fenômenos terrestres e celestes. Originalmente isto simplesmente significava observar como as mudanças de estação e outros eventos correlatos tais como migrações de animais e ciclos de plantio pareciam ter uma correspondência com os movimentos do sol e da lua através das várias constelações. Épocas ou estações diferentes tinham qualidades diferentes. Posteriormente observou-se que a qualidade de qualquer coisa nascida a uma determinada época, tal como a personalidade de um ser humano, estava espelhada na maneira pela qual o sol a lua e outros planetas estavam relacionados uns com os outros naquele específico momento. Em outras palavras, o cosmo espelha a psique; a estrutura psíquica é revelada pela estrutura do sistema solar no momento do nascimento. “ Assim em cima assim como em baixo.” Este é o princípio fundamental sobre o qual o sistema inteiro se baseia.

A astro-psicologia é a união entre a Astrologia e a Psicologia. Especificamente, é a tentativa de integrar os princípios astrológicos com os conceitos e as práticas psicológicas, principalmente quando estes se aplicam a pacientes que se submetem à terapia continua. A astro-psicologia é na realidade uma teoria da personalidade, assim como a teoria psicoanalítica de Freud ou a teoria psicológica analítica de Jung ou qualquer uma entre as dúzias de outras teorias analíticas ensinadas nas faculdades.

A diferença é que, ao contrário das teorias convencionais que são simplesmente produtos do pensamento criativos de seus criadores, a astrologia se baseia em referências externas – os planetas – que podem ser observados e com os quais se podem fazer previsões. Na verdade, a astrologia é o único sistema onde existem referências externas para a montagem de uma estrutura psíquica. Cada signo representa um impulso humano fundamental e cada planeta um processo psicológico direcionado a satisfazer um desses impulsos. Enquanto as teorias modernas sobre a personalidade tendem a ser auto-retratos metafóricos de seus criadores, a astrologia, por sua vez, fornece uma estrutura mais objetiva porque ela não se origina de um indivíduo ou mesmo de uma cultura. Nenhuma teoria da personalidade que possa ser chamada de “moderna” existe por mais de cem anos, ao passo que a astrologia existe desde o começo da humanidade e continua a evoluir. Sendo assim, os astrólogos vêem as teorias convencionais da personalidade como algo parecido com a reinvenção da roda. Isto não significa que a psicologia moderna não tenha valor; ela tem um tremendo valor. Só que a astrologia é infinitamente mais complexa do qualquer outra teoria da personalidade que tenha sido desenvolvida na era moderna. Um horóscopo expõe a estrutura e a dinâmica da psique de uma forma extremamente detalhada. Quando reunimos a pesquisa psicológica moderna e os estudos clínicos com a astrologia alcançamos então um padrão de extraordinária complexidade e força.

Quais são os benefícios da Astro-Psicologia? Qual a diferença da terapia tradicional?

Toda abordagem psicoterapeutica se baseia em determinadas suposições básicas sobre a psique humana. Essas suposições se originam da teoria da personalidade que sustenta a terapia. Contudo devemos nos lembrar que essas suposições são sobre algo que na prática é invisível: ninguém jamais viu a alma; a consciência é inatingível, a mente não é o cérebro. A psicologia moderna está lidando com aquilo que Arthur Koestler chamava de “o fantasma dentro da máquina.” Portanto, quando uma dessas teorias modernas é usada num trabalho terapêutico com um paciente, na maioria das vezes é um trabalho de adivinhação; estamos tateando no escuro tal qual um médico da idade média sem qualquer conhecimento de anatomia, tentando tratar de um doente com problemas renais sem nunca ter visto um rim. Da mesma maneira, também não conseguimos ver dentro da caixa preta a que chamamos de psique.

Além disso, a astrologia não somente dá ao terapeuta uma teoria da personalidade com detalhes da psique em geral, como também dá um mapa astral individual que é um raio-x da psique daquela pessoa. Portanto a astrologia é tanto uma teoria da personalidade quanto uma ferramenta para se ter um diagnóstico; ela nos dá uma imagem da estrutura arquétipa da psique – a que temos em comum com todos os seres humanos – além da estrutura psíquica do indivíduo. E cada mapa astral é tão individual quanto a impressão digital ou o código genético. Isto significa que não estamos mais tateando no escuro. Agora podemos ver aquilo com o que estamos trabalhando. O mapa astral funciona como um ponto de referência objetivo que contrabalança a subjetividade do processo terapêutico. Você ainda precisa usar a sua intuição e acreditar no seu instinto, porem o mapa astral aponta na direção certa e lhe mantém no caminho. Isto intensifica o trabalho e acelera todo o processo terapêutico.

Uma vantagem adicional é que a astrologia permite ao profissional ver e antecipar o desenvolvimento do processo psicológico enquanto ele se desenrola. Como os planetas continuam a se mover em suas órbitas, novas angulações vão se formando com as posições que ocupavam no momento do nascimento. Esses movimentos são chamados de “trânsitos” e funcionam como marcações do tempo para determinados tipos de experiência. Ora, a “psicologia evolucionária” convencional, já forneceu uma enorme quantidade de informações sobre experiências gerais do ser humano em seus vários estágios de vida. Mas não consegue nos explicar como, quando ou porque o desenrolar da vida de uma pessoa difere da vida de uma outra. Portanto, o astrólogo pode efetivamente ver cada período da vida do seu paciente e predizer, muitas vezes com uma impressionante exatidão, as características essenciais da experiência de vida daquele momento.

O mapa astral funciona como uma máquina do tempo dando um diagnóstico que permite ao terapeuta ter acesso aos eventos psicológicos que cobrem todo o período do nascimento até a morte. Por exemplo, eu posso estudar os trânsitos de um paciente num determinado momento da sua vida e descobrir uma pista que me leve a eventos traumáticos que podem ter ocorrido na infância, ou me projetar ao futuro e apontar períodos onde meu paciente estará mais propenso a se confrontar com novas crises. Tais projeções não só predizem uma crise generalizada, como também o tipo e a duração de uma crise específica. Portanto, um mapa astral ajuda ao terapeuta tanto no diagnóstico como no prognóstico, pois além de mostrar a simbologia dos conflitos e complexos internos, ele também aponta as áreas e épocas de um provável crescimento.

Não existe nada igual a isto no campo da psicologia moderna. Enquanto terapeutas, somos como motoristas de ônibus sem mapas. Todos esperam que possamos ajudar os nossos pacientes a chegar sãos e salvos aos seus destinos, porem nunca podemos prever o que virá pelo caminho. A astrologia nos dá o mapa do caminho. O mapa astral pode ser visto como o mapa simbólico do processo de auto-realização, o mapa do caminho que retrata o despertar da consciência – por assim dizer, a jornada da alma.

Como a astrologia funciona?

Como e porque funciona, ninguém sabe. Podemos especular ou apresentar várias teorias mas no final tudo permanece sendo um mistério. Uma das teorias é de que a consciência é continua e não necessariamente começa nem termina nesta vida – em outras palavras, continuamos a nos reencarnar até alcançar a iluminação. Esta perspectiva sugere que a infinita sabedoria do cosmos determina que uma pessoa nasça quando os planetas estejam ordenados dentro de uma estrutura tal que reflita o destino que aquele indivíduo merece, baseado em ações em vidas passadas. Experiências subseqüentes com a cultura e com os que nos cercam são atribuídas a uma estrutura psíquica pré-existente.

O meio ambiente portanto, começando pelo corpo, não é tanto a primeira mas sim a segunda causa do comportamento; é um espelho que reflete a já existente estrutura interna da alma. A pessoa nasce debaixo de circunstâncias que refletem a natureza da consciência desta pessoa, consciência esta que talvez proporcione oportunidades de crescimento. As condições físicas tais como o nosso corpo, os nossos pais e a organização particular dos planetas na hora do nascimento, são símbolos mais do que causas de consciência. Esta explicação me agrada porque coloca a responsabilidade no indivíduo em vez de colocar em alguma suposta causa externa tal como a genética ou a condição social dentro da qual nascemos.

O que podemos aprender sobre o comportamento humano através do exame de um mapa astral? Poderia nos dar alguns exemplos?

O mapa astral é essencialmente um mapa simbólico da consciência, um tipo de mapa do caminho da jornada da alma nesta vida. Cada planeta simboliza uma diferente aptidão psicológica que é direcionada para satisfazer uma necessidade específica. Enquanto cada parte do mapa tem significados concretos em si mesmos, este significado tem uma variedade infinita de combinações. Como um todo, o mapa astral conta uma estória, ele retrata uma narrativa pessoal ou lenda imaginária que mostra como o indivíduo se comporta ao se defrontar (ou não) com suas várias necessidades. Assim como em qualquer boa estória, o conflito é inerente ao mapa. Passamos a maior parte da nossa vida elaborando um ou dois pontos cruciais claramente simbolizados no mapa. Um planeta é um símbolo de um fator psicológico interno assim como de um fator externo do meio ambiente. Portanto, a maneira como somos estruturados se reflete na essência das nossas experiências atuais. Saturno por exemplo, simboliza o tamanho da nossa ambição assim como a nossa relação com as figuras de autoridade. Se estas duas características estiverem bem integradas, fica mais fácil ter sucesso na vida. Se não estiverem, poderão gerar vários tipos de problemas relacionados à carreira e a figuras de autoridade em geral.

O local específico onde este planeta se encontra no mapa e os ângulos que ele forma com outros planetas, fornecem as pistas de como nos expressamos e demonstramos esta faceta na vida.

Uma vez eu tratei de um caso onde uma mãe estava envolvida numa intensa briga de poder com sua filha. A criança se recusava a render mais na escola e estava levando a mãe à loucura. O exame do horóscopo da filha revelou que Saturno estava em oposição a Lua , sugerindo que ela estava predisposta a ver sua mãe como uma figura extremamente saturnina – ríspida, crítica, exigente, etc. Era isto que estava acontecendo. A mãe havia se transformado naquilo que a filha mais temia – uma figura autoritária e opressora que exigia perfeição e ameaçava com rejeição se a filha não se comportasse à altura de seus altíssimos níveis de exigência. No entanto, o problema era da filha – um medo interno de autoridade que estava associado à mãe.

Esta condição inata e intrapsíquica causava a resistência à mãe. A criança havia simplesmente introjetado a mãe; a mãe se tornara parte do problema em vez da solução.

Ao explicar à mãe o significado astrológico da Lua em oposição a Saturno, isto é, a crença da criança de que ela tinha que ser perfeita para poder ser amada, a percepção da causa da resistência da filha, mudou. Ela começou a perceber que o comportamento da filha, era na realidade, uma tentativa de desmontar esta crença negativa. A filha sentiria um enorme alívio se fosse amada mesmo rendendo abaixo da média. E a filha continuava não alcançando os níveis desejados e testando a mãe. Esta compreensão liberou a mãe e permitiu que ela parasse de se culpar, parasse de brigar e começasse a lidar com a situação de uma forma mais criativa.

Eu não falo sobre o mapa astral na maioria dos meus atendimentos psicoterapêuticos. Eu só o uso como uma ferramenta para ter um diagnóstico. Contudo, ele acelera enormemente a fase do diagnóstico da terapia e me ajuda a criar uma maior e mais rápida empatia com a visão de mundo do meu paciente – isto é, com o seu mito pessoal. Outro caso envolvendo Saturno aconteceu com uma mulher de 50 anos cuja Vênus estava em oposição a Saturno, significando que a sua necessidade por afeto e intimidade (Vênus) estava em conflito com sua necessidade de ser perfeita (Saturno). Sendo assim, ela achava que tinha que ser submissa e paciente e que devia agüentar parceiros grosseiros e desinteressados, pois não era boa o suficiente para merecer mais do que isso. Na sua juventude, este aspecto se apresentara no pai que era muito amado mas que era bastante ascético, frio, obsessivo, super controlador e um trabalhador compulsivo – todas palavras de Saturno. Esta filha acreditara que para ser amada pelo seu pai e devia ser paciente, agüentar sofrimentos, não pedir nada, se auto anular e ser mais perfeita possível. Ao tornar-se adulta, ela simplesmente agia dentro destes padrões inconscientes com todos os homens da sua vida. O seu mapa me permitiu focalizar muito rapidamente o núcleo desta crença e compreender a sua origem na infância e suas conseqüências na vida adulta.

Quando o mapa astral começa a ajudar a compreender o paciente, o terapeuta passa a dispor de várias modalidades de tratamento. A astrologia não é uma terapia assim como o raio-X não é um tratamento para o câncer. Ela é uma ferramenta para se fazer um diagnóstico – porém muito superior a qualquer outra usada em psicologia.

Qual é a diferença entre astrologia psicológica e a astrologia usada como instrumento de previsões?

A astrologia convencional tende a se enfocar mais nas previsões ou incidentes de um mapa.

O astrólogo faz previsões sobre o caráter e a vida de uma pessoa. O perigo aqui é que a personalidade é descrita como uma entidade mais ou menos fixa, estática no decorrer do tempo. Eu sempre disse que com a astrologia tradicional o máximo que você pode fazer é estar certo. Agora, se você realmente ajudou ou não o seu cliente, é outra estória. A abordagem profissional por outro lado, focaliza mais os impulsos e as necessidades fundamentais e o ponto de vista do paciente, inclusive suas crenças e suposições inconscientes sobre o que se pode esperar dos outros. Tenta-se mostrar como o comportamento e os incidentes se derivam deste sistema de crenças que está simbolizado no mapa. Existe também um apoio para ajudar o paciente na sua intenção e capacidade de mudança. A personalidade não é vista como uma entidade fixa, mas como um processo dinâmico e evolutivo que caminha em direção a uma maior compreensão e complexidade.

Desde esta perspectiva, um evento ou incidente ( a manifestação física) é menos importante do que o seu significado, isto é, como o evento se reflete no paciente em relação ao seu momento de vida e a seu desenvolvimento como pessoa. Muitas vezes a astrologia é usada para tentar evitar os incidentes negativos. Ela se reduz a um mero aviso na estrada: “Atenção. Curva perigosa adiante.” A suposição implícita é a de que a percepção do futuro pode ser usada para evitar catástrofes ou explorar oportunidades. Existem no entanto três problemas dentro desta linha de raciocínio. Primeiro, a suposição de que incidentes indesejáveis não tem valor. No entanto, assim como a dor física é um sinal de que alguma coisa está errada no corpo, os incidentes físicos podem mostrar que alguma coisa está errada com a psique. Em outras palavras, eles constituem uma valiosa fonte de informações que ajuda a corrigir crenças e atitudes negativas.

Segundo, algumas vezes a catástrofe e a tragédia são necessárias para o bem da pessoa, isto é, para despertar a compaixão. As tentativas de se proteger da tragédia são geralmente as causas do seu surgimento, como nos ensina Sófocles em Édipo Rei. Pessoalmente, eu não acredito que a astrologia deva ser usada como um profilático contra a inseminação de energias cósmicas indesejadas. Seria muito fútil. Seria como o que estava escrito na traseira de um carro: “A vida é o que está acontecendo enquanto você faz outros planos.”

Terceiro, a astro-psicologia não admite a separação entre psique e incidentes. A base de toda astrologia é a conexão sincronizada entre a psique e o cosmos. Os incidentes ou eventos podem simplesmente ser uma reação da consciência, uma precipitação da psique, e desta forma, fornecem os elementos necessários para nossa maior evolução. Sendo assim, eu acho que a atitude correta que devemos ter perante os eventos das nossas vidas, deva a de reverência.

A pergunta relevante deve ser: “ o que eu posso aprender com esta experiência?”, e não “como eu posso evitar esta experiência ruim?”. Seguidamente a astrologia é subvertida, numa tentativa de controlar e evitar experiências que são difíceis, como se elas fossem unicamente intrusões virulentas que não tem nenhum significado ou valor nas nossas vidas. Esta é uma atitude bastante onipotente usada por alguns astrólogos. Como nos lembra o Dalai Lama: “Não conseguir o que você quer pode ser um tremendo golpe de sorte.”

A astrologia pode prever o futuro?

Ela pode prever os atributos de um determinado período de tempo. É isso o que ela melhor faz. Porem isto não é a mesma coisa que fazer previsões de eventos específicos, concretos. Em outras palavras, quanto maior for a tentativa de se prever um incidente ou evento específico, concreto, maior será a probabilidade de erro. Isto acontece porque uma determinada configuração simbólica pode apresentar vários resultados. A astrologia faz previsões arquétipas e não concretas. Por isso, o mais importante não é o incidente, mas o seu significado. De uma certa forma, o incidente específico é irrelevante, pois incidentes diferentes podem ter significados iguais ou parecidos. De uma maneira ou de outra, o incidente vai acontecer de uma forma consistente com a natureza dos arquétipos envolvidos

Sabemos hoje em dia que mesmo ao nível de realidade física , o universo é indefinido, isto é, não é totalmente previsível. Ele é no entanto relativamente previsível dentro de um raio de ação de resultados prováveis. Aqui, a palavra chave é “relatividade”, pois sempre existe uma dose de liberdade no sistema para que se possa escolher em qual caminho alternativo vamos agir. A astrologia também é assim, um determinado aspecto ou transito pode se manifestar de inúmeras maneiras; deste modo ele só é relativamente previsível a nível físico. Mesmo sem saber exatamente qual vai ser a manifestação física, podemos prever com bastante precisão, o significado e os atributos do transito. Assim, se um transito é uma oportunidade para aprender e crescer e não meramente uma justificativa para se omitir, então o seu significado é mais importante do que a sua forma. A pergunta, mais uma vez, não é se a astrologia pode fazer previsões (ela pode com uma relativa precisão), mas compreender o significado contido no incidente. O que este incidente ou evento requer de nós? Como podemos utilizar o incidente para nos projetar em direção a um maior crescimento e a descoberta de novos potenciais?

Qual é a origem da Astro-Psicologia? Como ela começou?

Foi o psicanalista Carl Jung quem primeiro reconheceu o vasto potencial da astrologia como uma ferramenta para explorar as profundezas da psique. Em vários artigos escritos durante a sua vida, Jung sempre demonstrou um profundo respeito pela astrologia. Ele afirmava que a astrologia tinha muito a oferecer à psicologia e admitia ter usado a astrologia em seu trabalho analítico. Nos casos de diagnósticos psicológicos difíceis, Jung fazia um mapa astral para ter outro ponto de vista desde um angulo completamente diferente.

Jung considerava os signos e os planetas da astrologia como símbolos de processos arquétipos que se originavam no inconsciente coletivo. Os arquétipos do inconsciente coletivo eram os princípios organizadores universais que são a base e a causa da vida psicológica. Um arquétipo era tanto subjetivo quanto objetivo; estava evidente tanto nas idéias inatas da consciência humana quanto nos processos fundamentais da natureza; influenciava não somente a experiência humana assim como o movimento dos planetas. Era exatamente esta natureza dual do arquétipo que aparecia no mapa astral fazendo a ponte entre o caráter interno e os eventos externos que refletem este caráter. Ele concluiu que os arquétipos eram psíquicos; isto é, eles influenciavam a matéria e a mente. Uma configuração astral definia tanto a disposição inata do indivíduo quanto as diferentes condições externas das experiências pelas quais o indivíduo iria passar.

A observação das correlações entre o fenômeno psicológico e os dados astrológicos, contribuiu para a formulação da sua teoria da sincronização. Ele definia sincronização como “ a ocorrência simultânea de um determinado estado psíquico com um ou mais eventos externos que tem um significado paralelo com o estado psíquico daquele momento.” Ele achava que a astrologia funcionava exatamente por causa da sincronização, isto é, a estrutura psíquica da pessoa que ia nascer estava “significantemente paralela” as posições dos planetas daquele momento.

Embora Jung nunca tenha desenvolvido nenhuma teoria sistemática sobra astrologia, aparentemente a sua teoria de psicologia analítica foi grandemente influenciada por ela. Existem tantos paralelos que somos forçados a concluir que pelo menos os seus conceitos principais foram tirados da astrologia. Além de considerar os planetas como sendo arquétipos e da teoria da sincronização como um meio para explicar as coincidências astrológicas, a noção de Jung dos dois tipos de postura – extrovertida e introvertida – é logo reconhecida pelos astrólogos como a bi-polaridade da divisão do zodíaco em duas polaridades dos signos – positivo/masculino (extrovertido) e negativo/feminino (introvertido). Igualmente, sua definição dos quatro tipos – intuição, sensação, pensamento e sentimento – é bastante similar a da astrologia – fogo, terra, ar e água. Como dizia Richard Idemon, Jung parecia um pouco Moisés. Mesmo tendo mostrado o caminho para outros, ele nunca conseguiu chegar à Terra Prometida da linguagem psicológica universal. Ele fazia referências à astrologia mas na realidade nunca se aprofundou o suficiente, acabando por criar outra linguagem para os arquétipos e grupos mais limitados de funções e tipos humanos.

Nos anos 30, Dane Rudhyar começou a reformular a astrologia moderna usando como base a psicologia analítica da Jung. Ele se focalizou principalmente na idéia de Jung de que a psique era o conjunto de forças opostas em equilíbrio e que a psique era intrinsecamente motivada a evoluir em direção a sua inteireza, um processo que Jung chamava de individuação. Por volta dos anos 60, o projeto de Ruhdyar de reformular a astrologia, recebeu um novo impulso surgido do movimento humanístico na psicologia. A psicologia humanística, conforme os textos de Abraham Maslow, Carl Rogers, Rollo May e outros, surgiu em resposta a um pessimismo desolador inerente à visão psicanalítica de Freud e ao conceito implícito no behaviorismo de que o potencial humano é repetitivo ou robotizante. Ambos, a psicanálise e o behaviorismo eram determinantes em afirmar que a personalidade é o produto de causas externas à pessoa, isto é, da genética, dos pais, do meio ambiente, etc. Os psicólogos humanistas opuseram-se a esta tendência desenvolvendo métodos que levam em conta o anseio pelo crescimento e a busca de um propósito no comportamento humano.

Rudhyar foi o primeiro a reconhecer como a astrologia e a psicologia humanista se completavam. O mapa na verdade, pode ser usado como um instrumento para estudar o complexo mundo interior que os humanistas estavam começando a explorar. Assim como a psicologia humanista era uma resposta ao determinismo inerente à psicanálise e ao behaviorismo, a astrologia humanista era uma resposta ao determinismo inerente à astrologia tradicional. Baseando-se no trabalho de Carl Rogers, Terapia centralizada no paciente (1951) (Client-Centered Therapy), Rudhyar desenvolveu Astrologia centralizada na pessoa (1972) Person-Centerd Astrology . A preocupação de Rudhyar era como a astrologia poderia ser usada para acompanhar o processo de auto- revelação. Ele percebeu que enquanto linguagem psicológica e ferramenta para diagnóstico, a astrologia poderia servir de guia para a integração e a transformação da personalidade. Assim como o mapa astral fornece o insight dos conflitos internos do paciente, o transito pode nos dizer quando os conflitos podem ser tratados. Estes movimentos planetários indicam a natureza, o significado e a duração de vários períodos de crescimento, cada um apresentando seus desafios e oportunidades. Enquanto os trânsitos podem se correlacionar com eventos externos que se abatem sobre o indivíduo, a astrologia, por sua vez, sugere que esses eventos são manifestações externas, sincronizadas com as mudanças internas. Os eventos externos servem para desencadear ou estimular o crescimento psicológico interno. Vistos desta maneira, os trânsitos revelam áreas da natureza de uma pessoa, que já estão prontas para serem conscientemente integradas, exploradas ou transformadas.

É necessário que o paciente acredite em astrologia para que este tipo de terapia funcione?

O paciente não precisa saber que o terapeuta se utiliza da astrologia. Eu geralmente pergunto aos meus pacientes o lugar e a hora do seu nascimento somente depois da terceira ou quarta sessão, e só faço isso uma vez. O terapeuta não precisa explicar qual é a teoria que está por detrás do trabalho. Isto seria uma intrusão. O que realmente importa é compreender o paciente e ajuda-lo a crescer e a se curar. Se a astrologia reforça e aprofunda a compreensão, então é isso que conta.

Esta técnica é melhor ou tem mais vantagens do que os métodos tradicionais?

Ela não é uma técnica ou um método terapêutico. É uma teoria da personalidade e uma ferramenta para se ter um diagnóstico. Por todas as razões já mencionadas, eu diria que definitivamente ela é uma teoria mais eficaz para compreender os seres humanos em geral e uma ferramenta mais eficaz para compreender um paciente em particular.

Eu vou lhe dar um exemplo. Imagine alguém lhe pedindo para ser o guia de uma viagem ao Amazonas. Só que você nunca esteve no Amazonas, não conhece ninguém que tenha ido lá. Mas a pessoa insiste que quer você como guia. Se houvesse um mapa dizendo onde e quando as piranhas se alimentam, quais são as plantas venenosas, quais os tipos de cobras, onde o rio é mais perigoso, etc, você não ia querer esse mapa? Afinal de contas, você é o guia. Esta é a situação no campo da psicoterapia hoje. Sem a astrologia nós não temos mapas que nos digam quando e onde determinados processos vão ocorrer. E no entanto, nós somos os guias. E eu não estou falando de previsões, estou falando de processos períodos e tipos de desafios, de crise e de mudanças.

Existem limitações para o método?

Sim, é claro. A vida finalmente é um mistério; estamos tentando compreender o relacionamento das coisas, mas chega um determinado ponto onde temos que reconhecer as nossas limitações como seres humanos. Em última análise, a realidade é inexprimível, desconhecida, a não ser através da experiência própria. Justamente por isso é que a astrologia não pode dar a previsão de resultados concretos com absoluta certeza. Mas ela pode prever a qualidade de uma experiência que pode se manifestar de várias maneiras – maneiras essas que sempre serão harmônicas com os significados indicados pelo simbolismo. De certa forma, meu respeito pela majestade do universo, por Deus se você quiser, se aprofundou no correr dos anos, como conseqüência do estudo da astrologia. Eu acredito que o universo esteja repleto de divindade e mesmo na impossibilidade de alcançar essa dimensão, a astrologia, pelo menos, nos fornece uma linguagem, uma pedra da Roseta, para decifrar e cooperar com o propósito divino.

 

Article in English: An introduction to Astro-Psychology

Uma Introdução à Astro-Psicologia