Entrevista concedida à Faculdade de Psicologia PUC – RS
por Márcia Ferreira
Entrevista para: Cadeira de Fundamentos Epistemológicos e Históricos da Psicologia – Prof. Carlos Veit
Entrevistadora: Vera Lúcia Coelho – Aluna de Graduação
Entrevistada: Márcia Ferreira Silva – Psicóloga e Diretora do C.E.A.P.
I) Qual a principal colaboração que a astrologia tem a acrescentar a um todo?
A leitura de um Mapa Natal pode trazer inúmeros insights: desde escolha vocacional, questões sobre relacionamentos, diagnósticos de problemas de saúde, quais os melhores momentos para alguma tomada de decisão, etc… além de tudo isso, a pessoa pode perceber questões inconscientes nela mesma que estavam totalmente desconhecidas, e como sabemos, tudo o que é desconhecido e inconsciente, fica atuando de maneira mais repetitiva e automatizada em nossa vida.
Acho também especialmente rico quando ao longo de um processo terapêutico, a pessoa procura a leitura de um mapa: as questões que ainda estavam obscurecidas e até negadas, podem ser mais rapidamente trazidas à luz, mesmo durante o processo da terapia.
Esta facilitação para os insights eu diria que é um dos grandes alcances da Astrologia.
II) Como se dá o tratamento?
O grande mérito da Astrologia é o fato de ser um excelente psicodiagnóstico e uma poderosa ferramenta de revelação da personalidade. Por outro lado, a astrologia não se propõe a ser um tratamento, pois sabemos que para lidar com aspectos psíquicos se faz necessário o aparato do contexto terapêutico e o fator continuidade, para que se crie um vínculo de confiança e de durabilidade tão necessários para o sucesso de um tratamento.
A leitura do mapa traz insights, mas esses deverão ser trabalhados num contexto terapêutico.
III) Qual a principal colaboração que a Astrologia tem a acrescentar dentro da psicologia?
Acho muito importante enfocar dessa maneira: como a Astrologia pode contribuir com a Psicologia, porque é um dos meus maiores interesses. Acredito que as principais sejam:
1) a de ser uma excelente ferramenta de psicodiagnóstico; a leitura de um mapa é tão complexa e profunda como qualquer teste de personalidade e inclusive revela outras questões que os testes não revelam, ligadas à atualização para o momento presente de vida
2) a contribuição de uma compreensão profunda da Personalidade: a astrologia é arquetípica, existe desde que o mundo é mundo, muito antes do advento da ciência, e contribui com uma compreensão profunda e detalhada da psique, tal qual a contribuição de uma Teoria da Personalidade
3) compreensão existencial: a astrologia mescla fatores tanto da nossa vivência a partir do nosso nascimento, como também aborda questões da vida intra-uterina e ainda vai abordar questões ligadas à espiritualidade, transcendendo uma compreensão meramente de conflitos egóicos, originados pós-nascimento
4) como eu disse, mas queria salientar novamente porque acho isso incrível, o Mapa revela as nossas vivências pré-natais!
IV) Por que a astrologia não é reconhecida como uma área dentro da psicologia pelo conselho?
Boa pergunta! É o que eu me pergunto todos os dias.
Há uma colocação referendando a astrologia do Jung, que é o criador da psicologia analítica: “A astrologia é a psicologia da antiguidade”. O próprio Jung estudou e trabalhou com astrologia.
Acho que a classe dos psicólogos não se utiliza da astrologia por puro desconhecimento, pois uma vez que os psicólogos se abrissem para isso, tenho certeza que ficariam fascinados, tal como aconteceu comigo.
O que eu penso que deva ocorrer também é que quando um psicólogo opta por uma determinada linha dentro da psicologia, existe um grande caminho e um volume considerável de estudos a ser realizado dentro dessa abordagem em questão, e assim, acaba ficando inviável trilhar um outro caminho em paralelo, além daquele que já está sendo seguido.
V) Como é a aceitação dos pacientes com os resultados do tratamento?
Como eu te disse antes, astrologia não é um tratamento. Porém, a aceitação da leitura do mapa é incrível…!
Sempre durante uma consulta, a pessoa fica meio perplexa: “Como pode tudo aquilo estar sendo dito sobre ela, sem que a conhecêssemos antes, sem que tivéssemos nenhuma informação sobre ela?”.
Isso é realmente impactante, não? Como podemos acertar tanto com um mapa? Mas é isso justamente o que acontece em nossa rotina e isso justamente o que aconteceu comigo na 1ª. vez que leram meu mapa, na adolescência, foi essa perplexidade de constatar: “como isso tudo pode estar aí nesse mapa, me descrevendo tão perfeitamente?”
Após a consulta, a elaboração dos insights é muito grande, pois sempre recebo feedbacks das pessoas que já fizeram mapa comigo, dizendo que a partir da nossa consulta, passam a tentar outras coisas, ou mudam alguma coisa em suas vidas, e assim por diante…
VI) Por que escolheu astrologia como atuação profissional?
Eu acho que não fui eu que escolhi, mas a astrologia que me escolheu…rs… eu fiz psicologia na PUC-SP e me formei em 1982; naquela época, na faculdade, já se falava muito sobre astrologia, muitas pessoas interessadas, porém não haviam aulas de astrologia.
Um amigo fez meu mapa e eu fiquei extremamente impactada; foi meio ” antes e depois” ; parece que daquele momento em diante já não teve mais volta; fui “picada” pelo bichinho da paixão por astrologia.
De lá para cá, não foi assim tão fácil admitir e me entregar a esta paixão, principalmente por toda a dificuldade de reconhecimento social que já abordamos e tb. porque era muito difícil encontrar boas escolas para poder realizar por inteiro o estudo. Até que chegou uma hora que não pude mais resistir e mergulhei totalmente no estudo e no trabalho, até chegar à criação do C.E.A.P. aqui em Campinas…portanto, a escolha foi totalmente atendendo a uma vocação; vocação vem do latim vocare = chamar, portanto foi um “chamamento” interno desde o 1º. momento, só faltava eu dar ouvidos mesmo…rs…
VII) Você acha que a astrologia é estudada e aplicada corretamente em um todo nos dias de hoje?
Acho que dentro da astrologia existem ” muitas astrologias” ; a que seguimos tem esse enfoque psicológico; é o conhecimento da astrologia propriamente dita, porém não focamos somente na manifestação dos eventos em si, como ela é mais conhecida; entendemos que o mesmo fenômeno arquetípico pode se manifestar de variadas roupagens; muitas vezes até falamos dos eventos externos sim, mas não é o prioritário, e sempre chegamos nisso junto com o cliente; não nos colocamos com a postura magnânima do ” bruxo”, que vai adivinhar uma situação e a outra pessoa vai ficar ali, passiva, somente ouvindo um ditame cósmico em que ela fica passiva, impotente e muitas vezes amedrontada; existe muita gente que não pratica astrologia assim e existem as mais variadas formas de abordagem, dentro do mesmo saber
Agora quanto a ser aplicada corretamente ou não, eu não diria em relação à aplicação da astrologia, pois como eu disse, assim como em psicologia, há variadas abordagens e linhas, mas o que eu acho que poderia melhorar muito é a forma como a astrologia é vista pela sociedade, que é prioritariamente a de um mero entretenimento. O que fazemos é totalmente diferente de horóscopo de jornal, não menosprezando esse trabalho que também é complexo, porém é somente assim que ela é conhecida e veiculada pela mídia.
Caberia a nós, enquanto astrólogos, sabermos fazer a divulgação do que se trata realmente o nosso trabalho, que é bastante rico, profundo e individualizado, não se restringindo a somente 12 signos solares e, portanto, a 12 tipos humanos.
VIII) Qual o ponto principal de estudo da astrologia?
– na Astrologia Genetlíaca ( voltada ao homem) = Auto-conhecimento ( Mapa Natal ) ; Vocacional; Sinastria ( combinação de mapas );Astrologia Médica ( detectar as relações entre corpo e mente = diagnóstico e prevenção ); Astrologia Previsional = atualiza o Mapa para o ano em questão e faz a análise desse período atual e do período futuro de 01 ano
– Astrologia Horária = responde questões sobre alguma pergunta formulada, como um oráculo
– Astrologia Elecional = escolha da data mais adequada para a abertura de um negócio, para o início de algo
– Astrologia Mundial = vai falar sobre acontecimentos mundiais nas esferas políticas e financeiras, assim como fenômenos ou catástrofes naturais
– Astrologia Empresarial = para o acompanhamento de negócios e de empresas; para o que se refere a melhores momentos para investimentos como também por ex., p/ tomada de decisões na empresa
– Astrocartografia = a escolha de lugares que melhor se harmonizem com pessoas, atividades ou coisas.
IX) Como é o mercado de trabalho, e a competição de profissionais na astrologia?
Enfrentamos o problema da não-regulamentação, que é uma questão muito discutida dentro de nosso meio. Há os que acham que deva haver a regulamentação e há os que acreditam que se isso vier a acontecer, será simplesmente uma maneira do governo regular e colocar regras na profissão com o intuito de taxação.
Eu penso que seria bom se a profissão fosse regulamentada, mas ainda o mais importante seria ainda um fortalecimento interno, de dentro para fora. Da maneira que tudo acontece, somos obrigados a concorrer e ser confundidos com pessoas que não estudam nem 1/10 do que tivemos que estudar para se ter uma boa formação e praticam uma pseudo-astrologia, muitas vezes iludindo o público e divulgando conceitos errôneos.
Agora, em termos da aceitação junto ao mundo acadêmico, isso é uma coisa que vem mudando muito nos últimos anos, haja visto por ex., essa entrevista que estou dando a uma faculdade de psicologia.
Os paradigmas em relação à ciência também estão mudando muito; parece que somente buscar respostas no mundo material como a ciência vinha fazendo no séc. XX, não está satisfazendo mais e isso pode ser comprovado com a aceitação crescente atual de outros conhecimentos não cartesianos, como por ex: acupuntura, homeopatia, etc…parece que as pessoas estão cada vez mais buscando respostas na parte espiritual para seus problemas, onde não haja justamente somente um raciocínio lógico, cartesiano e mecanicista de causa e efeito e onde não se leve somente em conta as manifestações na matéria; acho que é aí que a astrologia se encaixa…
Aqui na nossa escola, no C.E.A.P., temos como alunos engenheiros, médicos ( psiquiatras, neurologistas, homeopatas ) , advogados, publicitários, pedagogos, dentistas, e por aí vai…isso para mim é a prova cabal de como os paradigmas e o interesse no mundo acadêmico estão mudando e de como as pessoas vêm buscando outras fontes de saber.
O que eu posso dizer é que apesar de todas as dificuldades, quando se é apaixonado por um conhecimento, vale muito a pena ir nessa direção!
Obrigada!