img height="1" width="1" style="display:none" src="[https://www.facebook.com/tr?id=2170169386632379&ev=PageView&noscript=1"](https://www.facebook.com/tr?id=2170169386632379&ev=PageView&noscript=1%22 "‌")/

Astrologia e a Psicologia Analítica

por Márcia Ferreira Silva

Enfoque em Processo de Individuação, Inconsciente Coletivo e Arquétipos

É muito interessante notarmos que em seus trabalhos mais tardios, no contexto de suas análises da sincronicidade, Jung se direcionou a uma concepção dos Arquétipos como:

“Padrões autônomos de significados que informam tanto a psique como a matéria promovendo uma ponte entre o mundo interno e externo”, o que ele chamou de propriedade psicóide dos Arquétipos.

Esta compreensão nos fornece uma base importante de compreensão da Astrologia e ao mesmo tempo explica algo que nós, que lidamos com a interpretação de Mapas Astrológicos, estamos tão habituados a ver: as ocorrências na vida de uma determinada pessoa se darem tanto de forma internalizada intra psíquica como também sob a forma de eventos externos.

Nesta fase, Jung se interessou por Astrologia e acabou inclusive desenvolvendo uma pesquisa correlacionando o mapa de 303 casais, ou seja, 606 horóscopos. Apesar de todas as dificuldades encontradas por se tratar de uma pesquisa quantitativa, o que nós sabemos não ser o melhor método a se aplicar à Astrologia, ele acabou por concluir que havia uma incidência significativa de conjunções entre as Luas de um dos cônjuges e a Lua, o Sol ou o ASC de seu parceiro e que isto não poderia se tratar de uma simples coincidência.

É também sabido que no final de sua vida ele utilizou mapas e trânsitos de seus pacientes em sua prática clínica regular.

Portanto, mesmo que mais para o final de sua vida, Jung abriu uma porta para essa possibilidade de conhecimento, a Astrologia, e a explorou de forma bastante intensa.

Neste artigo estabeleceremos um paralelo ou uma aproximação entre a Teoria Junguiana, também chamada de Psicologia Analítica e a Astrologia. Esta aproximação não é uma ligação direta, para que não caiamos em um reducionismo entre os dois saberes. A Astrologia existe há 6.000 anos, é um conhecimento arquetípico, confunde-se com os primórdios da humanidade. O homem em diferentes civilizações e momentos da história sempre observou essa sincronicidade entre os eventos celestes e os terrestres.

Por outro lado, a Teoria Junguiana tem seus próprios pilares de sustentação, fruto de uma vida inteira de pesquisas e indagações tanto a nível teórico quanto prático por parte de Jung. O seu conhecimento foi sendo construído a partir de estudos de Filosofia, Arqueologia, Mitologia, Antropologia, Alquimia e História. Jung se deixou influenciar pelas idéias de Schopenhauer, Nietzsche e Kant, além de Platão e outros pensadores da Antiguidade. Estabeleceu profundos intercâmbios de idéias com Freud, Adler e também com os físicos Einstein e Pauli. Utilizou sua própria vida e seus mergulhos em seu próprio inconsciente para chegar às suas conclusões, além da profunda investigação na vida de seus pacientes, os quais sempre acompanhou de perto por tantos anos. Formou um grande corpo de conhecimento.

Portanto, qualquer tentativa de redução entre uma coisa e outra estaria fadada ao fracasso. O que podemos fazer é estabelecer paralelos para podermos aprofundar o nosso conhecimento de ambos os lados.

Sendo assim, enfocaremos alguns pilares da teoria de Carl Gustav Jung, estabelecendo esta ponte com a Astrologia:

Processo de Individuação
Segundo Jung, o Processo de Individuação seria o objetivo final em termos do desenvolvimento psicológico. Nossa principal tarefa seria descobrir e cumprir o nosso mais profundo potencial inato.

“Individuação só pode significar um processo de desenvolvimento psicológico que proporcione a realização das qualidades herdadas individuais” C. G. Jung

Paralelamente, o Mapa Astrológico fala da nossa semente em potencial, de nosso script para essa vida, independente das influências externas. Poder dar vazão ao que é realmente único e individual seria a nossa tarefa em termos de individuação, mesmo que tal direcionamento vá na contramão de uma expectativa social ou familiar.

A superação das questões difíceis de um Mapa Natal seria o nosso processo de desenvolvimento psicológico ou o nosso Processo de Individuação. O caminho para tal superação seria justamente trazer à consciência o material que se encontre ainda no inconsciente e que esteja bloqueando esse caminho, através do que Jung chamou de Transcendência Simbólica.

Uma outra colocação, segundo M. Louise Von Franz, continuadora do trabalho de Jung: “O Processo de Individuação só é real se o indivíduo estiver consciente dele e, consequentemente, mantendo uma ligação viva com ele” M. Louise Von Franz

Neste conceito do Processo de Individuação existe essa idéia de movimento, de continuidade, de eterno retorno a si-mesmo.
O mesmo se dá também na nossa relação com o nosso Mapa Natal, pois o mesmo não é passível de somente uma única leitura ao longo da vida. Em uma época da vida podemos estar vivenciando aquele arquétipo de uma determinada forma e depois daquelas questões terem sido conscientizadas e trabalhadas, este mesmo arquétipo poderá ser vivenciado de uma outra forma, espera-se que seja de forma melhor.

O Mapa é o que nos mostra a unicidade de uma pessoa, mesmo com seus diversos componentes antagônicos. É muito importante que estejamos sempre atentos a isso, a poder fazer essa leitura unificadora das diversas partes de uma mesma pessoa, trazendo-a a entrar em contato com esse núcleo unificado e fazendo com que os vários lados estabeleçam um diálogo. Isso é o que faz a enorme diferença entre uma boa interpretação astrológica e uma mesma leitura feita por um computador, por exemplo.

Inconsciente Coletivo
Freud afirmava que o inconsciente era composto por experiências traumáticas e reprimidas da infância. Ele dizia que haviam necessidades instintivas emergentes que se antagonizavam com a realidade opressiva da família e da sociedade.

Com o tempo, Jung foi desenvolvendo seu próprio referencial teórico e neste tópico, caminhou na direção oposta. Para ele, o inconsciente era o elemento inicial a partir de onde a consciência emerge. Desenvolveu o conceito de inconsciente como algo anterior à consciência, como uma pré-consciência.  A partir de um certo ponto, as pesquisas de Jung o levaram à descoberta do Inconsciente Coletivo, o qual seria a camada mais profunda da psique humana.
Segundo sua colocação:

“O Inconsciente Coletivo é a nossa herança comum, que transcende todas as diferenças de cultura e de atitudes conscientes. Compreende nossas disposições latentes para reações idênticas, herdadas, que estruturam a nossa mente”. Portanto, nesse substrato mais profundo de nosso inconsciente, existiriam essas disposições comuns a toda a humanidade.

O conceito do Inconsciente Coletivo nos remete imediatamente ao nosso próximo tópico:

Arquétipos:
O que seriam os Arquétipos? A palavra Arquétipo vem de archai = arcaico, antigo, velho / e typos = tipos, matrizes.

Arquétipos são, portanto, uma espécie de matriz, com raízes comuns a toda a humanidade.

Na camada mais profunda do inconsciente, no nosso Inconsciente Coletivo, existe uma combinação de padrões e forças predominantes universalmente, chamados “Arquétipos”. Em outras palavras, os Arquétipos seriam, por conseguinte, os conteúdos deste Inconsciente Coletivo.

A Astrologia é arquetípica: os signos, os planetas, todas as configurações astrológicas se confundem com a origem da humanidade. O homem sempre reproduziu essa compreensão arquetípica do céu. Em diferentes civilizações e em diferentes momentos da história foram estabelecidas relações entre os movimentos dos planetas e as ocorrências aqui na Terra.

Como coloca Jung, um Arquétipo não é a experiência em sim, mas sim apenas uma possibilidade de um certo tipo de ação ou percepção, o qual será preenchido com as experiências inconscientes individuais. Um Arquétipo, portanto, serve como um pano de fundo para a experiência. O que herdamos é o potencial para repetir tais experiências, não a própria experiência. Dependendo do tempo e da civilização na história, um mesmo Arquétipo terá diferentes manifestações. Assim, a sua forma muda continuamente.

“Como um recipiente vazio que nunca podemos esvaziar ou encher completamente”, como diz Jung.

O mesmo podemos dizer que se aplica à Astrologia, onde a mesma configuração astrológica poderá assumir diferentes manifestações e dar expressão individualizada ao Arquétipo em potencial. Nós não podemos prever qual a manifestação exata que determinada configuração astrológica terá em um determinado momento, mas podemos saber que determinado Arquétipo estará atuando ali naquela configuração. Prever a configuração arquetípica já é suficiente para grandes descobertas.
Por ex: nós não sabemos se determinado trânsito do planeta Marte irá se manifestar a nível físico, em um órgão como bexiga e/ou na musculatura, ou como um evento externo como por ex. uma batida de carro ou ainda como um rompante de agressividade.

Por outro lado, prevermos a configuração arquetípica envolvendo o planeta Marte com toda a sua propriedade intrínseca de assertividade, agressividade e impulsividade já será de grande utilidade para que este material inconsciente seja trazido à consciência e possa ser transcendido.

Estes são somente alguns paralelos entre os pilares da Teoria de Carl Gustav Jung e uma compreensão arquetípica da Astrologia. Podemos estender nossa análise e estabelecer outras “pontes” com outros tópicos de sua teoria.

Tal compreensão poderá nos trazer um aprofundamento e uma maior compreensão da Alma Humana em nossas leituras astrológicas.

Astrologia e a Psicologia Analítica