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O Deus Úrano e suas Consequências Psico-Astrológicas

por Luiz Roberto Delvaux de Matos

O deus Úrano é o filho de Géia na “Teogonia” de Hesíodo e representa a personificação do céu, enquanto elemento fecundador de Géia (a Terra). Com Úrano, a deusa-mãe Terra teve os seis Titãs, as seis Titânidas, as três Ciclopes e os três Hecatonquiros. Entretanto, tão logo nasciam os filhos, o deus Úrano os devolvia ao seio materno, certamente temendo ser destronado por um deles. Géia, curvada com tanto peso e sentindo-se esgotada com o abraço sem tréguas do esposo, pediu aos filhos que a libertassem da opressão e da fecundidade inesgotável do marido.

Todos recusaram, exceto Cronos, o caçula dos Titãs. Géia entregou-lhe uma foice e quando o deus Úrano se deitou à noite, “ávido de amor” sobre a esposa, Cronos lhe cortou os testículos.

O sangue do ferimento caiu sobre a terra, concebendo esta, no tempo devido, as Erínias, os Gigantes e as Ninfas Mélias ou Melíades. Os testículos lançados ao mar, formaram uma “espumarada”, de que nasceu Afrodite.

O deus Úrano personifica a primeira força atuante no universo mitológico grego. Há nele a representação única de um ser divino que foi, ao mesmo tempo, filho e pai. Ao fazer a devolução de suas crias ao seio materno, temos aqui a impossibilidade da criação. O gesto desesperado de Géia, pedindo que fosse aliviada de tal destino, implica que a Terra necessitava que suas crias pudessem se desenvolver.

Em Astrologia, localizamos a castração na cúspide da casa 12 (fim da casa 11). Na concepção, como resultado do derramamento do sangue, veremos o surgimento das Erínias, dos Gigantes e das Ninfas Mélias.

As Erínias são inicialmente na mitologia grega as guardiãs das leis da natureza e da ordem das coisas, no sentido físico e moral e que puniam a todos que ultrapassem seus direitos em prejuízo dos outros. Para os gregos, havia o conceito de “Guénos” que eram pessoas ligadas por laços sanguíneos. Qualquer falta, erro ou crime cometido por um “guénos” contra outro tinha que ser obrigatoriamente vingados. Enfim, a tarefa primordial das Erínias seria proteger a ordem social.

Os Gigantes eram seres imensos, prodigiosamente fortes, de espessa cabeleira e tinham as pernas em forma de serpente. O verdadeiro combate dos Gigantes é a evolução da vida para uma espiritualização crescente e progressiva. Metaforicamente isto implica num esforço próprio do homem, que não pode contar apenas com as forças do alto, para triunfar sobre as tendências involutivas e regressivas que lhes são imanentes. O mito representa tudo quanto o homem terá que vencer para liberar e fazer desabrochar a personalidade.

As Ninfas Mélias ou Melíades são também conhecidas como Ninfas dos Freixos. Para os gregos, o freixo é o símbolo de poderosa solidez. Na antiguidade clássica, o freixo possuía um grande poder mágico, além de funcionar como antídoto contra venenos, desde que misturado às folhas de vinho. As Ninfas são divindades das águas claras, das fontes e das nascentes, geram e criam grandes heróis. Viviam em cavernas e lugares úmidos que são lugares próprios para iniciação, no intuito de renascimento para uma nova vida.

As concepções por derramento de sangue indicam a existência na casa 12 de todo um processo necessário de iniciação civilizatória por parte dos grupos de seres humanos com o objetivo principal de formação de grupos sociais.

A outra consequência da castração sofrida por Úrano foi a “espumarada” de onde nasceu Afrodite. Esta é correlacionada com o signo de Touro. Na casa 2 temos o nascimento de uma deusa que é a representante do amor. Consequência de uma castração traz em seu bojo uma “nostalgia do poder total” exercido pelo deus Úrano. É a casa da construção do narcisismo enquanto estrutura que nos vincula ao Outro em nossos relacionamentos. É necessário que tenhamos uma visão crítica para que não nos valorizemos demais ou, ao contrário, nos desvalorizemos, concedendo ao Outro um lugar desproporcional em nossa vida.

Por outro lado, a casa 11 nos indica onde colocamos nossa fantasia maior – a de poder total (Úrano em sua ascenção). Ali reina, por exemplo, a Ciência, quase sem limites, que precisa encontrar o seu equilíbrio entre sua evolução e a ética em suas descobertas.

Em um mapa individual, a casa 11 revela (em sua cúspide), o nosso sonho maior de poder. Este deverá ser reavaliado na casa 12, em conjunto com nossos pares de caminhada, para que possamos levar uma vida social pautada pela lei e normas sociais.

 

Luiz Roberto Delvaux

Luiz Roberto Delvaux de Matos é Astrólogo há 22 anos e membro do CNA (Central Nacional de Astrologia). É também Psicólogo, Psicanalista, Professor e Articulista de Astrologia.

O Deus Úrano e suas Consequências Psico-Astrológicas